Dourado VZ, Tanni SE, Vale SA, Faganello MM, Sanchez FF, Godoy I
Artigo de Revisão Manifestações sistêmicas na doença pulmonar obstrutiva crônica* Systemic manifestations in chronic obstructive pulmonary disease VICTOR ZUNIGA DOURADO1, SUZANA ERICO TANNI2, SIMONE ALVES VALE2, MÁRCIA MARIA FAGANELLO1, FERNANDA FIGUEIRÔA SANCHEZ3, IRMA GODOY4 RESUMO A doença pulmonar obstrutiva crônica é progressiva e está relacionada a uma resposta inflamatória anormal dos pulmões à inalação de partículas e/ou gases tóxicos, sobretudo a fumaça de cigarro. Embora acometa primariamente os pulmões, diversas manifestações extrapulmonares relacionadas a esta enfermidade têm sido descritas. O aumento do número de células inflamatórias, que resulta em produção anormal de citocinas pró-inflamatórias, e o desequilíbrio entre a formação de radicais livres e a capacidade antioxidante, resultando em sobrecarga oxidativa, provavelmente são mecanismos envolvidos na inflamação local e sistêmica. Além disso, a diminuição do condicionamento físico secundária às limitações ventilatórias pode estar envolvida no desenvolvimento de alterações musculares. A doença pulmonar obstrutiva crônica apresenta diversas manifestações sistêmicas que incluem a depleção nutricional, a disfunção dos músculos esqueléticos, que contribui para a intolerância ao exercício, e as manifestações relacionadas a co-morbidades comumente observadas nestes pacientes. Essas manifestações têm sido relacionadas à sobrevida e ao estado geral de saúde dos pacientes. Nesse sentido, esta revisão tem como objetivo discutir os achados da literatura relacionados às manifestações sistêmicas da doença pulmonar obstrutiva crônica, ressaltando o papel da inflação sistêmica, e algumas perspectivas de tratamento. Descritores: Refluxo Gastroesofágico/complicações; Asma; Laringite; Tosse; Fundoplicatura; Transtornos respiratórios/etiologia ABSTRACT Chronic obstructive pulmonary disease is progressive and is characterized by abnormal inflammation of the lungs in response to inhalation of noxious particles or toxic gases, especially cigarette smoke. Although this infirmity primarily affects the lungs, diverse extrapulmonary manifestations have been described. The likely mechanisms involved in the local and systemic inflammation seen in this disease include an increase in the number of inflammatory cells (resulting in abnormal production of inflammatory cytokines) and an imbalance between the formation of reactive oxygen species and antioxidant capacity (leading to oxidative stress). Weakened physical condition secondary to airflow limitation can also lead to the development of altered muscle function. Chronic obstructive pulmonary disease presents diverse systemic effects including nutritional depletion and musculoskeletal dysfunction (causing a reduction in exercise tolerance), as well as other effects related to the comorbidities generally observed in these patients. These manifestations have been correlated with survival and overall health status in chronic obstructive pulmonary disease patients. In view of these facts, the aim of this review was to discuss findings in the literature related to the systemic manifestations of chronic obstructive pulmonary disease, emphasizing the role played by systemic inflammation and evaluating various therapeutic strategies. Keywords: Gastroesophageal Reflux/complications; Asthma; Laryngitis; Cough; Fundoplication; Respiration disorders/etiology
* Trabalho realizado no Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista -UNESP - Botucatu (SP) Brasil. 1.Fisioterapeuta doutorando do Programa Fisiopatologia em Clínica Médica do Departamento de Clínica Médica daFaculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual Paulista - UNESP - Botucatu (SP) Brasil. 2.Médica pneumologista do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Botucatu da UniversidadeEstadual Paulista - UNESP - Botucatu (SP) Brasil. 3.Fisioterapeuta mestranda do Programa Fisiopatologia em Clínica Médica do Departamento de Clínica Médica daFaculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual Paulista - UNESP - Botucatu (SP) Brasil. 4. Professora Livre Docente Adjunta da Disciplina de Pneumologia da Faculdade de Medicina de Botucatu da UniversidadeEstadual Paulista - UNESP - Botucatu (SP) Brasil. Endereço para correspondência: Victor Zuniga Dourado. Rua Antônio Sabino Santa Rosa, 70, AP. 13-C - CEP: 18606-140,Botucatu , SP, Brasil. Tel. 55 14 3811 6213. E-mail: [email protected] para publicação em 20/6/05. Aprovado, após revisão, em 7/7/05.
Manifestações sistêmicas na doença pulmonar obstrutiva crônica
INTRODUÇÃO
ação e medidas para melhorar o estado nutricio-nal e a tolerância ao exercício fazem parte das
A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é
recomendações da Iniciativa Global para a Doen-
definida como doença respiratória prevenível e tra-
tável, caracterizada por obstrução crônica ao fluxo
Tendo em vista as repercussões negativas das
aéreo que não é totalmente reversível. Essa obstru-
manifestações sistêmicas da DPOC na tolerância
ção é progressiva e está relacionada a resposta in-
ao exercício, no prognóstico e na sobrevida dos
flamatória anormal dos pulmões à inalação de par-
pacientes, esta revisão tem o objetivo de discutir
tículas e/ou gases tóxicos, sobretudo a fumaça de
os principais achados da literatura relacionados às
cigarro. Embora a DPOC acometa os pulmões, há
manifestações sistêmicas da DPOC. Serão aborda-
diversas manifestações sistêmicas relacionadas a esta
das a depleção nutricional, a disfunção dos mús-
enfermidade.(1) As manifestações locais e sistêmicas
culos esqueléticos periféricos e as manifestações
da DPOC estão resumidas na Figura 1.
relacionadas às co-morbidades comumente encon-
Inflamação das vias aéreas e destruição do pa-
tradas em pacientes com DPOC. Além disso, o pa-
rênquima pulmonar são as alterações caracterís-
pel da inflamação sistêmica e as perspectivas de
ticas da DPOC e contribuem para a limitação ao
tratamento serão discutidos. As bases de dados
fluxo aéreo, que é o marcador funcional da do-
MEDLINE e LILACS foram consultadas, utilizando-
ença. Entretanto, o quadro clínico e as repercus-
se os unitermos relacionados aos tópicos desta
sões no estado geral de saúde do paciente so-
revisão e o período de pesquisa foi restrito às pu-
frem a influência das manifestações sistêmicas da
blicações referentes aos últimos quinze anos.
DPOC e reforçam a necessidade de abordagemmultidimensional que contemple todos os com-
ESTADO NUTRICIONAL
Além da inflamação presente nas vias aéreas,
A perda de peso começou a ser descrita como
há evidências de inflamação sistêmica nos paci-
um sinal clínico na evolução dos pacientes com DPOC
entes com DPOC, mas a relação entre inflamação
na década de 1960 e tem sido associada a menor
local e sistêmica não está estabelecida.(2-3) Existem
sobrevida.(9) A prevalência da desnutrição é variável,
também evidências de desequilíbrio entre a for-
oscilando entre 26% e 47% dos pacientes portado-
mação de radicais livres de oxigênio e a capacida-
res de DPOC.(10-11) Estudos retrospectivos indicam que
de antioxidante que resulta em sobrecarga oxida-
reduções do peso do corpo, resultando em valores
tiva nos pulmões. Este desequilíbrio está envolvi-
abaixo de 90% do peso ideal e em valores baixos de
do na patogênese da doença e pode causar lesão
índice de massa corpórea, são fatores prognósticos
celular, hipersecreção mucosa, inativação de anti-
negativos independentemente da gravidade da do-
proteases e aumentar a inflamação pulmonar por
ença.(5) Há relação inversa entre o índice de massa
meio da ativação de fatores de transcrição.(4)
corpórea e a sobrevida em pacientes com DPOC.(5,12)
Há evidências recentes de alterações similares
Em todos os grupos, a perda de peso está associada
às que ocorrem no pulmão, isto é, o estresse oxi-
com mortalidade aumentada; além disso, pacientes
dativo e a inflamação podem estar envolvidos nos
com DPOC grave e índice de massa corpórea menor
mecanismos de desenvolvimento dos efeitos sis-
que 25 kg/m2 apresentam aumento da sobrevida
têmicos da DPOC.(4) Pacientes com DPOC apresen-
tam perda de peso, indicador independente de des-
Várias etiologias são propostas para a deficiên-
fecho da doença.(5) Perda da massa magra do cor-
cia nutricional observada nos pacientes com DPOC.
po também resulta em disfunção muscular perifé-
Entretanto, os mecanismos envolvidos ainda não
rica, diminuição da capacidade para realizar exer-
estão totalmente esclarecidos.(14) Desequilíbrio en-
cícios e da qualidade de vida, alterações que são
tre a ingestão e o gasto energético, devido à dimi-
importantes determinantes de prognóstico e so-
nuição da ingestão ou aumento do gasto energéti-
brevida em pacientes com DPOC.(6-7) Portanto, ín-
co, parece ser o fator envolvido na maioria dos ca-
dices que incluem manifestações locais e sistêmi-
sos.(15) Os possíveis mecanismos envolvidos na per-
cas da DPOC podem ser mais adequados para ava-
da de peso em pacientes com DPOC estão apresen-
liar a sobrevida destes pacientes. De fato, a avali-
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Figura 1 - ??????????????????????????????????????????????????????????????????
O perfil elevado de citocinas pró-inflamatórias
culos esqueléticos periféricos. Alterações no meta-
está relacionado com a perda de peso e caque-
bolismo da leptina podem também estar envolvidas
xia.(16) Estudos experimentais e achados clínicos
no desenvolvimento das alterações nutricionais nos
sugerem que a liberação de mediadores inflamató-
pacientes com DPOC. Este hormônio representa si-
rios pode contribuir para o desenvolvimento do hi-
nal para o cérebro e para os tecidos periféricos e
permetabolismo, para a diminuição da ingestão
regula a ingestão alimentar, o gasto energético ba-
energética e para resposta inadequada à ingestão
sal e o peso do corpo. Os poucos estudos realiza-
alimentar e, assim, para as alterações nutricionais
dos sugerem que a inflamação pode alterar o meta-
observadas nos pacientes com DPOC. Citocinas como
bolismo da leptina em pacientes com DPOC. Entre-
o fator de necrose tumoral alfa e a interleucina (IL)-
tanto, o papel deste hormônio no desenvolvimento
1B podem causar anorexia e estimular a proteólise,
das alterações nutricionais, nestes pacientes, não é
esta última através da ativação e da aceleração da
conhecido e para sua compreensão há necessidade
enzima ubiquitina proteosoma presente nos mús-
Manifestações sistêmicas na doença pulmonar obstrutiva crônica
Deve-se, também, considerar que, freqüentemen-
Perspectiva de tratamento
te, os pacientes com DPOC apresentam hipoxemia,
Recentemente foi publicada uma meta-análise da
principalmente nos estágios avançados da doença.
Chocrane Library, em que foram reavaliados os estu-
Alguns dados da literatura sugerem que a hipoxe-
dos disponíveis sobre suplementação nutricional em
mia poderia estimular a produção de mediadores
pacientes com DPOC.(25) Os autores não encontraram
inflamatórios e participar do desenvolvimento das
efeitos da suplementação alimentar nas medidas an-
alterações nutricionais dos pacientes com DPOC.(18)
tropométricas, função pulmonar ou capacidade para
Pacientes desnutridos apresentam dispnéia mais
realizar exercícios. Entretanto, estudos recentes mos-
intensa, deterioração da qualidade de vida e me-
tram efeitos positivos da suplementação alimentar
nor capacidade para realizar exercícios.(19-20)
em subgrupos de pacientes e em pacientes com al-
O valor do índice de massa corpórea e a perda
terações nutricionais menos acentuadas.(26)
de peso são fatores de risco para a hospitalização
Os esteróides anabólicos, apesar de seus efeitos
devida à exacerbação da doença, indicam pior prog-
colaterais, podem ser uma opção para induzir au-
nóstico na evolução da exacerbação e podem de-
mento da massa muscular e melhora funcional nos
terminar necessidade de ventilação mecânica.(21) Além
pacientes que não responderam à terapia nutricio-
disso, o tempo de sobrevida após exacerbação cor-
nal tradicional.(26) Pacientes com DPOC que recebe-
relacionou-se, de forma independente, com o índi-
ram esteróides anabólicos, por curtos períodos,
ce de massa corpórea(22) e valores baixos deste ín-
apresentaram aumento da massa magra e ausência
dice correlacionaram-se com aumento da morbida-
de efeitos colaterais significativos, mas não se cons-
de pós-operatória em pacientes submetidos à ci-
tatou melhoria da tolerância ao exercício e da disp-
rurgia redutora de volume pulmonar.(23) A depleção
néia.(26) Especificamente nas mulheres, entre os prin-
nutricional está também associada ao aumento de
cipais riscos provenientes da administração de an-
mortalidade e da freqüência de hospitalizações em
drógenos podem ser citados a masculinização, as
pacientes com DPOC em oxigenoterapia domiciliar
reações de pele, os efeitos colaterais nos lipídios
plasmáticos e as mudanças de comportamento.(27) A
Figura 2 - ??????????????????????????????????????????????????????????????????
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terapia prolongada com andrógenos pode aumen-
aumento da fração de fibras tipo I e diminuição
tar os riscos de eventos cardiovasculares em virtu-
das fibras tipo II, e aumento da capacidade oxida-
de da diminuição do HDL colesterol. No que se re-
tiva de todas as fibras.(32) Estas adaptações indicam
fere à correlação da suplementação de andrógenos
adaptação aeróbica do diafragma diante da doen-
e desenvolvimento de câncer de mama, a literatura
ça, que é, entretanto, insuficiente para restabelecer
a força e endurance aos valores normais.
Nesse sentido, novas investigações são neces-
sárias para a avaliação dos benefícios adicionais
ALTERAÇÕES DOS MÚSCULOS
da terapia com esteróides anabolizantes relacio-
ESQUELÉTICOS PERIFÉRICOS
nados à tolerância ao exercício e à qualidade devida. Além disso, o tipo de exercício associado à
Os pacientes com DPOC que utilizam mais fre-
terapia com anabolizantes deve ser investigado,
qüentemente os recursos dos serviços de saúde
tendo em vista que o treinamento de força apre-
apresentam força muscular de quadríceps signi-
senta maior influência do metabolismo de tes-
ficativamente menor que aqueles que utilizam
estes serviços aproximadamente duas vezes porano.(33) Valores de área de secção transversa da
ALTERAÇÕES DOS MÚSCULOS
coxa, avaliada por tomografia, menores que 70
RESPIRATÓRIOS
cm2 foram apontados como o principal preditorde mortalidade e como ponto em que o catabo-
Pacientes com DPOC freqüentemente apresen-
lismo prevalece em relação ao anabolismo nos
tam fraqueza e diminuição da endurance dos mús-
pacientes com DPOC.(6,34) Estes resultados suge-
culos respiratórios. Os fatores que podem deterio-
rem impacto significativo da estrutura e função
rar a função e estrutura muscular podem ser classi-
muscular periférica no estado geral de saúde em
ficados em dois grupos: musculares intrínsecos e
pacientes com DPOC. Os músculos de pacientes
musculares extrínsecos.(29) Dentre os fatores extrín-
com DPOC podem apresentar alterações de força,
secos encontram-se alterações geométricas da pa-
massa, morfologia e da bioenergética muscular,
rede torácica, do volume pulmonar e fatores meta-
bólicos sistêmicos. Como fatores intrínsecos estãorelacionadas mudanças no tamanho da fibra mus-
Força e massa muscular
cular, comprimento do sarcômero, massa e meta-
A fraqueza muscular é proporcional à perda de
massa muscular.(29) Há evidências de que os pacien-
A hiperinsuflação pulmonar é um dos fatores
tes com DPOC apresentam redução significativa de
que prejudicam a função muscular. Ela altera a for-
força de membros superiores e inferiores quando
ma e a geometria da parede torácica e leva a redu-
são comparados aos congêneres controles.(35) Além
ção crônica da zona de aposição do diafragma.(30)
disso, a área de secção transversa da coxa é signi-
Além disto, o rebaixamento do diafragma reduz o
ficativamente menor em pacientes com DPOC.(35)
comprimento das fibras, o qual é importante deter-
A redução de força muscular é predominante
minante da capacidade do músculo em gerar força.
nos membros inferiores e, entre as explicações pos-
Nos pacientes com DPOC o diafragma trabalha
síveis para este fato podem ser citadas: atividades
com aumento de carga mecânica devido à limita-
relacionadas ao desenvolvimento de marcha comu-
ção ao fluxo aéreo e às mudanças geométricas do
mente evitadas pelos pacientes com DPOC em vir-
tórax devidas à hiperinsuflação pulmonar. Além da
tude da sensação de dispnéia, predomínio das ati-
desvantagem mecânica, outras alterações como es-
vidades de vida diária realizadas com os membros
tado eletrolítico, mediadores pró-inflamatórios e
superiores, e grande número de músculos de cintu-
fator de crescimento podem interferir na função
ra escapular responsáveis pela elevação dos braços
muscular respiratória. O diafragma destes pacientes
que participam concomitantemente da respiração
preserva a propriedade intrínseca de gerar pressão,
acessória. Estes mecanismos são os principais res-
mas a função muscular pode estar prejudicada pe-
ponsáveis pela força muscular de membros superi-
los fatores extrínsecos.(31) Ocorrem também mudan-
ores estar relativamente preservada nos pacientes
ças na estrutura do diafragma caracterizadas pelo
Manifestações sistêmicas na doença pulmonar obstrutiva crônica
Morfologia muscular
mo anaeróbio aláctico,(29) responsável por ativida-
A redução da atividade contráctil do músculo
des de alta intensidade e curta duração,(42) associ-
influencia o trofismo e o balanço entre síntese e
ada à redução da atividade oxidativa, reforça o
degradação musculares.(37) Como conseqüência do
predomínio do sistema anaeróbio láctico em paci-
desuso e da imobilização prolongados, há predo-
entes com DPOC,(43) o que resulta em lactacidose
mínio de perda de fibras de contração lenta em
precoce e intolerância ao exercício.(29)
indivíduos saudáveis. Este perfil de fibras muscu-lares já foi identificado em pacientes com DPOC.(38)
ETIOLOGIA DA DISFUNÇÃO DOS MÚSCU-
Além da redistribuição de fibras musculares
LOS ESQUELÉTICOS PERIFÉRICOS
observada em pacientes com DPOC, há evidênciasde que a área de secção transversal, tanto das fi-
A Figura 3 apresenta resumidamente os prin-
bras de contração lenta quanto das de contração
cipais fatores etiológicos da disfunção dos mús-
rápida, está significativamente reduzida nos paci-
culos esqueléticos periféricos em pacientes com
DPOC. As alterações nos músculos esqueléticostêm sido relacionadas a vários fatores, incluindo
Bioenergética muscular
a diminuição do condicionamento físico, meta-
Em estudos feitos em material coletado através
bolismo de aminoácidos, inflamação sistêmica e
de biópsias do músculo vasto lateral foi observado
estresse oxidativo. A seguir os diferentes meca-
que pacientes com DPOC apresentam redução sig-
nificativa de enzimas oxidativas(39-41) e manuten-ção,(29,39,40-41) ou aumento,(29,41) de enzimas glicolíti-
Diminuição do condicionamento
cas. Outra alteração bioenergética relatada em pa-
Quando expostos a situações dinâmicas repeti-
cientes com DPOC é a redução do metabolismo de
das, os pacientes com DPOC apresentam aumento
fosfocreatina muscular,(29) um dos principais fatores
da demanda ventilatória, que os obriga a evitar tais
envolvidos no metabolismo anaeróbio aláctico.(42)
atividades e, em conseqüência, são acometidos por
sedentarismo crônico.(29) Este, por sua vez, reduz a
baixa capacidade oxidativa, capacidade glicolítica
força e a massa musculares, e a capacidade aeró-
normal ou aumentada e metabolismo anaeróbio
bia, o que resulta em demanda ventilatória ainda
aláctico diminuído.(39,41) A redução do metabolis-
mais intensa para as mesmas atividades dinâmicas,fechando o ciclo denominado dispnéia-sedentaris-mo-dispnéia.(29) Devido a estes conhecimentos e aosachados da literatura, surgiu a necessidade de in-vestigações relacionadas às alterações muscularesque poderiam ser responsáveis pela intolerância aoexercício em pacientes com DPOC.(15,29)
A redistribuição de fibras musculares, com au-
mento do percentual de fibras do tipo I, diminuiçãode enzimas oxidativas e manutenção de enzimas gli-colíticas comumente encontrados em pacientes comDPOC, é relacionada à hipoxemia por alguns auto-res.(15) Entretanto, a redistribuição de fibras muscula-res já foi relatada por diversos autores como conse-qüência do imobilismo, situação que acomete prin-cipalmente as fibras do tipo I. Além disso, o fato deas alterações funcionais, morfológicas e bioenergé-ticas serem totalmente reversíveis após programasde recondicionamento adequados(39) reforçam a par-ticipação da diminuição crônica do condicionamen-to como principal mecanismo de disfunção dos mús-
Figura 3 - ??????????????????????????????????????????????????????
Dourado VZ, Tanni SE, Vale SA, Faganello MM, Sanchez FF, Godoy I
As alterações bioenergéticas encontradas nos
Influência do metabolismo de aminoácidos
pacientes com DPOC são explicadas, em parte, pela
Algumas manifestações da DPOC influenciam
diminuição crônica do condicionamento freqüen-
negativamente o metabolismo de aminoácidos e
temente presente nesses pacientes. Em indivíduos
promovem perda muscular nos pacientes acometi-
normais, durante períodos de inatividade, inicial-
dos.(37) Os pacientes com DPOC apresentam altera-
mente ocorre redução da capacidade aeróbia de-
ções no perfil de aminoácidos no plasma e nos
vido à redução do volume sistólico e do débito
músculos esqueléticos.(37) Concentrações séricas mais
cardíaco e, posteriormente, ocorre redução da ca-
baixas de glutamato, glutamina e alanina foram
pacidade de extração de oxigênio.(42) Em indiví-
encontradas em pacientes enfisematosos com de-
duos normais, a densidade mitocondrial pode ser
pleção nutricional.(46) Além disso, os aminoácidos de
aumentada, dobrando seu valor em cinco sema-
cadeia ramificada, principalmente a alanina, encon-
nas de treinamento. No entanto, uma semana de
tram-se em baixas concentrações plasmáticas nos
inatividade é responsável pela perda de 50% do
pacientes com DPOC. Esta redução apresenta-se
que foi adquirido em cinco semanas de treinamen-
mais evidente nos pacientes com baixo peso.(47)
to.(42) Três ou quatro semanas de recondiciona-
Estes aminoácidos desempenham várias fun-
mento são necessárias para que a densidade mito-
ções importantes: a alanina interfere na gliconeo-
condrial recupere a densidade prévia.(42)
gênese; a glutamina é metabolizada no fígado e
No mesmo sentido, quando a biópsia é realiza-
no trato gastrintestinal e fornece energia para os
da no músculo tibial anterior(44) ou deltóide(45) as
leucócitos e fibroblastos; e o glutamato participa
alterações enzimáticas encontradas no vasto late-
de todas as reações de transaminação nos múscu-
ral não se confirmam. Em um estudo que avaliou
o perfil enzimático de tibial anterior em pacientescom DPOC, não tratados com corticosteróides (n
Influência da inflamação sistêmica
= 15), pacientes recebendo tratamento com pred-
O fator de necrose tumoral alfa, a IL-1 e a IL-6
nisolona (n = 14) e em controles homogêneos (n
contra-regulam a produção de IGF-1 que media a
= 10) os resultados não evidenciaram nenhuma
ação anabólica do hormônio do crescimento,(48) e
alteração do perfil enzimático nos dois grupos de
o aumento da IL-6 tem correlação negativa com a
pacientes com DPOC. De maneira semelhante, al-
testosterona e a dehidroepiandosterona, que tam-
guns autores(45) avaliaram o perfil enzimático e de
bém possuem ação anabólica.(34) O efeito negativo
fibras musculares em biópsia de deltóide em paci-
da IL-6 na capacidade funcional de indivíduos
entes com DPOC e em indivíduos controles ho-
idosos já foi descrita por alguns autores.(49) Níveis
mogêneos. Estes autores não obtiveram resulta-
mais elevados de IL-6 estão associados a menor
dos diferentes entre os grupos: não houve redis-
sobrevida e a prejuízo significativo da capacidade
tribuição de fibras musculares e a concentração
de citrato-sintetase mostrou-se semelhante no gru-po de pacientes com DPOC e nos controles. Influência do metabolismo pró-antioxidante
As evidências de perfil enzimático e de fibras
Alguns autores sugerem a participação do de-
musculares inalterados em músculo postural e de
sequilíbrio do metabolismo pró-antioxidante em
membros superiores vão de encontro ao desuso
pacientes com DPOC como mecanismo importante
como causa principal das alterações musculares
na determinação da disfunção dos músculos es-
em pacientes com DPOC. Primeiro porque o tibial
queléticos nessa população.(51-52) Em 2003, alguns
anterior tem função na manutenção da postura e,
autores(51) avaliaram o estresse oxidativo sistêmi-
portanto, é composto essencialmente de fibras do
co proveniente de exercício localizado de qua-
tipo I e está constantemente ativo. Em segundo
dríceps. Os autores mensuraram os níveis plas-
lugar, porque a maioria das atividades de vida di-
máticos de substâncias reagentes do ácido tio-
ária são realizadas com os membros superiores, o
barbitúrico e a produção de radicais oxidantes
que proporciona atividade quase constante para o
derivados do oxigênio, como índice do estresse
deltóide. O alto grau de atividades destes múscu-
oxidativo, e os níveis de vitamina E, como antio-
los, provavelmente, garante a preservação da fun-
xidantes. Os pacientes com DPOC mostraram re-
ção, estrutura e bioenergética muscular.
sistência muscular de quadríceps significativa-
Manifestações sistêmicas na doença pulmonar obstrutiva crônica
mente menor que os indivíduos controles homo-
qualidade de vida significativamente maior quan-
gêneos. A concentração de substâncias reagen-
do comparado ao exercício aeróbio.(53) Embora os
tes do ácido tiobarbitúrico foi significativamente
pesquisadores e profissionais da saúde discutam a
maior nos pacientes com DPOC após seis horas
importância da força muscular na capacidade fun-
da realização do exercício. Os níveis de vitamina
cional dos pacientes com DPOC, não há consenso
E foram significativamente menores e houve cor-
com relação à implementação do treinamento de
relação negativa significativa entre substâncias
força nos programas de reabilitação pulmonar.
reagentes do ácido tiobarbitúrico e vitamina Enos pacientes com DPOC, diferentemente do ocor-
Estimulação elétrica neuromuscular
A estimulação elétrica neuromuscular já é nor-
Outros autores(52) avaliaram, por meio de bióp-
malmente utilizada na reabilitação de pacientes com
sia de vasto lateral, a atividade da glutationa re-
doença neuromuscular e ortopédica e, mais recen-
duzida e da glutationa oxidada em dezessete pa-
temente, há evidência crescente de que pode ser
cientes com DPOC e cinco indivíduos controles
útil em pacientes que apresentam disfunção dos
homogêneos. Quando os indivíduos foram sub-
músculos esqueléticos periféricos e intolerância ao
metidos a uma sessão apenas de treinamento sub-
exercício, resultantes de doenças sistêmicas.(54)
máximo não houve diferenças significativas nos
A estimulação elétrica neuromuscular pode ser
perfis de glutationa reduzida e de glutationa oxi-
útil, principalmente nos pacientes que apresentam
dada, tanto nos pacientes com DPOC quanto nos
DPOC grave e disfunção muscular esquelética sig-
controles. Contudo, quando a análise foi realizada
nificativa. Os benefícios deste tipo de terapia po-
após um regime de treinamento de oito semanas
dem ser particularmente evidentes nos pacientes
(cinco sessões por semana) houve elevação signi-
com dispnéia intensa, incapazes de se submete-
ficativa dos níveis de glutationa reduzida no gru-
rem mesmo a atividades extremamente leves. Nes-
po controle ao passo que, nos indivíduos com
te tipo de paciente, a estimulação elétrica neuro-
DPOC, não houve diferença estatisticamente sig-
muscular pode aliviar os efeitos da disfunção mus-
nificativa. Estes achados sugerem a incapacidade
cular, tornando possível a participação em pro-
dos pacientes com DPOC de melhorar sua capaci-
gramas de reabilitação pulmonar, que envolvam o
dade antioxidante após um regime de condicio-
namento físico, diferentemente do que ocorre co-mumente em indivíduos saudáveis. Terapia antioxidante
O estresse oxidativo apresenta papel importante
Perspectivas de tratamento
na fisiopatologia da DPOC. Neste sentido, a tera-
Exercício aeróbio
pia antioxidante parece ser uma estratégia racio-
O exercício aeróbio é recomendado para indiví-
nal para os pacientes acometidos pela doença. Até
duos com DPOC e deve ser iniciado independente-
o momento, o principal antioxidante disponível
mente do estágio da DPOC em que o paciente se
para tratamento de pacientes com DPOC é a N-
encontra.(8) Este tipo de treinamento aumenta a con-
acetilcisteína.(56) Este antioxidante pode reduzir a
centração de enzimas oxidativas mitocondriais, a
velocidade de declínio anual do volume expirató-
capilarização dos músculos treinados, o limiar anae-
rio forçado no primeiro segundo em pacientes com
róbio, o consumo máximo de oxigênio, e diminui o
DPOC. Alguns autores,(56) em um estudo multicên-
tempo de recuperação da creatina fosfato, resultan-
trico, não observaram nenhum efeito da N-acetil-
do em melhora da capacidade de exercício.(42)
cisteína no volume expiratório forçado no primei-ro segundo de 523 pacientes acompanhados por
Treino de força
três anos. Entretanto, a capacidade residual funci-
Tendo em vista que a fraqueza muscular con-
onal apresentou-se significativamente reduzida no
tribui para a intolerância ao exercício em porta-
grupo submetido à N-acetilcisteína. Há necessi-
dores de doença pulmonar crônica, o exercício de
dade de novas investigações, principalmente em
força é uma opção racional no processo de reabi-
relação aos efeitos da terapia antioxidante na pro-
litação pulmonar.(29) Atualmente há evidências de
gressão da DPOC, na freqüência de exacerbações
que este treinamento pode resultar em melhora da
e no alívio dos sintomas da doença.
Dourado VZ, Tanni SE, Vale SA, Faganello MM, Sanchez FF, Godoy I
OUTROS EFEITOS
não havia alterações na espirometria.
No mesmo sentido, doses baixas de corticóide
fluência do uso de corticosteróides
inalatório, de 50 a 200 mcg, reduziram o risco de
Associada à disfunção muscular, a osteoporose
infarto agudo do miocárdio em pacientes com
também é freqüente em pacientes com DPOC. O
DPOC.(60) Este estudo levanta a hipótese da ação
uso de corticosteróides, tanto inalatórios como
anti-inflamatória do corticóide pela modificação
sistêmicos, pode causar perda óssea nestes paci-
da expressão de genes relacionados à inibição da
entes, mas há também estudos que mostram dimi-
síntese de citoquinas como a IL-2, IL-6 e fator de
nuição da densidade óssea naqueles que não re-
necrose tumoral alfa, de adesão endotelial, de en-
zimas e de outras proteínas envolvidas na infla-
Pacientes em uso de corticosteróides por tem-
mação. Porém, estudos adicionais são necessários
po prolongado, maior que um mês, podem apre-
para investigar os efeitos do tratamento antiinfla-
sentar significativa diminuição dos níveis de tes-
matório no risco de infarto agudo do miocárdio
tosterona, causando disfunção sexual.(17) A dosa-
gem de corticosteróides e o nível sérico de testos-terona são inversamente proporcionais, provavel-
CONCLUSÃO
mente pela supressão da secreção de hormôniode liberação de gonadotropinas, pela glândula pi-
tuitária, induzida pelos corticosteróides.(17)
deve ser considerada uma doença sistêmica e as
O uso prolongado de corticosteróides está as-
manifestações extrapulmonares devem ser consi-
sociado com diminuição e perda de força mus-
deradas na avaliação da gravidade da DPOC. Além
cular em pacientes com DPOC quando compara-
disso, o tratamento destas manifestações pode
dos a pacientes que não recebem corticosterói-
modificar o prognóstico desses pacientes. A rea-
des. Em estudos com ratos foi visto que os CE
lização de novas investigações relacionadas à elu-
estimulam a proteólise e inibem tanto a síntese
cidação das manifestações sistêmicas faz-se ne-
protéica como o transporte de aminoácidos para
cessária para o desenvolvimento de novas estra-
as células musculares. Corticosteróides e acidose
tégias de tratamento, principalmente quanto ao
ativam a via da ubiquitina, conhecida por aumen-
estado nutricional e à disfunção dos músculos
tar a degradação protéica, principalmente naque-
esqueléticos periféricos, o que pode resultar em
les pacientes em uso de corticosteróides devido
melhora da tolerância ao exercício e do estado
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FOR IMMEDIATE RELEASE Contact: Tina Thomson Communications Aveda Fuses Ancient Ayurvedic Wisdom and 21st Century Technology To Launch Invati ™ Ninety-Seven Percent Naturally-Derived Solutions for Thinning Hair MINNESOTA (January 2012) — Rooted in Ayurveda, a 5,000 year-old healing tradition from India, plant and flower-based beauty brand Aveda™ calls upon its he