Artigo de Revisão: Fatores de risco e medidas
profiláticas nas pneumonias adquiridas na comunidade
Este artigo revisa os efeitos do envelhecimento, tabagismo,
Siglas e abreviaturas utilizadas neste trabalho
DPOC, insuficiência cardíaca, colonização da orofaringe, aspiração
DPOC - Doença pulmonar obstrutiva crônica
(micro e macro), alcoolismo, cirrose hepática, deficiência
nutricional, imunossupressão e fatores ambientais sobre o risco de
adquirir pneumonia na comunidade e sua gravidade. Na segunda
AIH’s - Autorizações de Internação Hospitalar
parte, é feita revisão sobre a ação profilática das vacinas antiinfluenza
PAC - Pneumonias adquiridas na comunidade
e antipneumococo, assim como a ação das drogas antivirais, na
profilaxia e tratamento das pneumonias adquiridas na comunidade.
AVC - Acidente vascular cerebral UTI - Unidade de terapia intensiva
Risk factors and prophylaxis of
HIV - Vírus da imunodeficiência humana
community-acquired pneumonias
AIDS - Síndrome da imunodeficiência adquirida
This article reviews the effects of aging, tobacco-smoking,
CDC - Centers for Disease Control and Prevention
chronic bronchitis and emphysema, heart failure, oropharyngeal
colonization, aspiration (micro and macro), alcoholism, hepatic cirrhosis, nutritional deficiency, immunosuppression, and da infecção pelo vírus da influenza, ocorrem em indivíduos maiores environmental factors on the risk of community-acquired de 65 anos. São relatados 10.000 a 40.000 óbitos relacionados à pneumonia and its severity. In the second part, the authors review
influenza, somente nos Estados Unidos, para cada época sazonal de
the prophylactic action of anti-influenza and anti-pneumococcus
gripe. Naquele país, a infecção pelo vírus da influenza resulta em 25
vaccines as well as the role of prevention and treatment of antiviral
milhões de consultas médicas anualmente, milhões de dias de
trabalho perdidos e centenas de milhares de hospitalizações. O impacto econômico anual associado à influenza constitui grande
Descritores - Pneumonia pneumocócica. Influenza. Vacina
ônus para a sociedade, sendo estimado, nos Estados Unidos, em
contra influenza. Vacinas virais. Fatores de risco.
Key words - Pneumococcal pneumonia. Influenza. Influenza
No Brasil, as pneumonias foram a causa básica de 17.220 mortes
na faixa etária de 65 anos ou mais, durante o ano de 1996. De acordo com o Serviço de Vigilância Epidemiológica da Fundação Nacional de
A pneumonia pneumocócica e a influenza são infecções do trato
Saúde (FUNASA), a taxa de hospitalização por gripe e pneumonia
respiratório inferior que levam a significante morbidade e em idosos foi de 12,5 por 1.000 habitantes. Os dados de mortalidade, especialmente em determinadas populações (como de
hospitalização do Sistema Único de Saúde (SUS) demonstram que a
idosos e aquela com doenças cardiopulmonares) . Nos Estados
pneumonia é a terceira causa de internações entre indivíduos com
Unidos, enquanto taxas de hospitalização têm decaído como um
65 anos de idade ou mais, representando 6,8% do total de
todo, hospitalizações por infecções do trato respiratório inferior
internações hospitalares no SUS, com um custo médio unitário de
têm aumentado progressivamente desde 1980 . A infecção R$ 194,09. Em 1997, 17,8% das Autorizações de Internação pneumocócica invasiva leva à bacteremia e meningite. Nos Estados
Hospitalar (AIHs) foram decorrentes de doenças respiratórias
Unidos, a incidência anual estimada de bacteremia pneumocócica
agudas e pneumonia em idosos, representando um custo de R$ 99,7
entre idosos é de 50 a 83 casos por 100.000 pessoas, sendo tais
infecções associadas a alta taxa de fatalidade . Os fatores de risco
A seguir, discutiremos os seguintes fatores de risco nas
para doença pneumocócica e influenza sobrepõem-se, pois a pneumonias adquiridas na comunidade (PAC): envelhecimento, pneumonia é a complicação mais comum da influenza e o organismo
tabagismo/DPOC, insuficiência cardíaca, colonização da orofaringe,
mais freqüentemente implicado é o S. pneumoniae . Avanços na
micro e macroaspiração, alcoolismo/cirrose hepática, deficiência
prevenção dessas infecções foram alcançados com o uso das vacinas.
nutricional, imunossupressão e fatores ambientais. Os mesmos
Em um ano comum, um entre cada dez adultos é portador de
influenza (gripe). Na população pediátrica, as percentagens anuais de incidência relatadas por clínicas ultrapassam os 30%. A morbidade é
FATORES DE RISCO
concentrada em crianças em idade escolar e adultos saudáveis,
EFEITOS DO ENVELHECIMENTO
porém as percentagens mais elevadas de mortalidade, decorrentes
Não está definido se a idade é fator independente de risco da
PAC. Fine et al. , excluindo pacientes com doenças crônicas,
1. Professora Titular de Clínica Médica, Universidade de
identificaram a idade maior que 65 anos como fator de risco
Brasília (UnB); Coordenadora da Área de Geriatria do Curso
independente para pneumonia complicada. Entretanto, a idade não
de Pós-graduação em Ciências da Saúde, UnB. Endereço para
teve peso preditivo alto, sendo algumas das complicações de pouca
correspondência – SHIS QL 18, conj. 7, casa 10 – 71650-075 –
significância. Assim, é incerto se o envelhecimento, em pacientes
Brasília, DF. Tel. (61) 366-2538. Recebido para publicação em
ativos na comunidade sem comorbidade associada, leva a aumento
31/5/00. Reapresentado em 31/10/00. Aprovado, após revisão,
do risco de PAC complicada. É provável que a idade e comorbidade
sejam aditivos e talvez sinérgicos, com respeito ao mau prognóstico
da PAC. O paciente idoso, sem condições de risco associadas, tem
QUADRO 3 - Efeitos das doenças
taxa de morte anual por pneumonia ou influenza de 9 por 100.000,
crônicas nas defesa do hospedeiro
comparada com 217 por 100.000 naqueles com condição de alto risco e 979 por 100.000 naqueles com duas ou mais condições de
1. Diminuição da imunidade mediada por células: má nutrição,
alto risco . O aumento da incidência de PAC com a idade é melhor
diabetes mellitus, insuficiência hepática
explicada pela combinação de alteração do estado imune, em adição
2. Diminuição da imunidade humoral: insuficiência renal, má
As alterações dos mecanismos de defesa no paciente idoso,
3. Alteração na colonização da orofaringe: má nutrição, câncer
sejam mecânicas ou senescência do sistema imune, estão mostradas
no Quadro 2. Além disso, as comorbidades que podem influenciar
5. Alteração da resposta dos macrófagos e neutrófilos:
negativamente as defesas do hospedeiro estão listadas no Quadro 3.
insuficiência renal, diabetes mellitus, cirurgia, trauma
A progressiva involução da glândula tímica pode ter papel
6. Alteração da drenagem linfática: doenças cardíacas
importante no desenvolvimento da imunodeficiência característica
7. Risco de aspiração: doenças neurológicas
dos idosos . As células T dos idosos têm deficiência em sua
8. Alteração da tosse e clearance mucociliar: DPOC, asma,
habilidade para ativar e proliferar em resposta a um antígeno. Em
adição, a habilidade das células T para secretar interleucina-2 (uma citocina necessária para recrutamento de outras células T) diminui
à pneumonia pneumocócica. Watanakunakorn e Bailey relataram
com a idade. A resposta anticórpica alterada para antígenos que 36,8% dos pacientes com 85 a 95 anos morreram de estranhos parece ser secundária à deficiência das células T helper. O
pneumonia pneumocócica, enquanto esta causa de morte não
recrutamento de macrófagos por células T está diminuído no idoso,
ocorreu em nenhum paciente com idade inferior a 45 anos. Assim, a
assim como podem também estar alteradas a quimiotaxia dos exclusão do tabagismo e o tratamento das doenças básicas,
neutrófilos polimorfonucleares e a fagocitose .
principalmente no paciente idoso, mantendo o mais perto possível
A etiologia e a gravidade das PAC estão relacionadas com a idade
da normalidade as defesas imunológicas sistêmicas e locais
e as comorbidades apresentadas pelos pacientes. A presença de
pulmonares, vão ajudar na prevenção da pneumonia.
doenças crônico-debilitantes associadas ao envelhecimento é fator
Koivula et al. investigaram a prevalência dos potenciais fatores
preponderante relacionado com o risco de morbidade e de risco para pneumonia na população idosa. As seguintes condições mortalidade nessa população. Certas doenças crônicas, foram significativamente mais comuns entre pacientes com especialmente aquelas relacionadas ao sistema cardiovascular e pneumonia que entre controles pareados: doença cardíaca (38,4% pulmonar, estão presentes em 6 a 56% dos pacientes com PAC versus 23%), doença pulmonar (13% versus 3,8%), asma brônquica tratados em domicílio e em 23 a 92% daqueles que necessitam de
(11,9% versus 3,1%), terapia imunossupressiva (2,7% versus
internação hospitalar . Estas comorbidades predispõem à PAC por
0,8%), alcoolismo (2,2% versus 0,3%) e institucionalização (8,6%
bacilos gram-negativos e Pseudomonas aeruginosa . Tabagismo, versus 3,9%). Os fatores de risco independentes para pneumonia doença cardiovascular, doença pulmonar obstrutiva crônica, doença
foram: alcoolismo (risco relativo RR = 9,0), asma brônquica (RR =
maligna e diabetes mellitus são as condições básicas que predispõem
4,2), terapêutica imunossupressiva (RR = 3,1), doença pulmonar (RR = 3,0), doença cardíaca (RR = 1,9), institucionalização (RR =
QUADRO 1 - Fatores de risco para
1,8%) e idade (70 anos ou mais versus 60 a 69 anos) (RR = 1,5).
pneumonias adquiridas na comunidade TABAGISMO/DPOC
Tabagismo é importante fator de risco para PAC, por alterar as
defesas locais pulmonares, tais como o clearance mucociliar .
Outros estudos mostram em tabagistas também alteração no
sistema imune e nas funções inflamatórias . Tabagismo é o fator de
risco mais importante para desenvolvimento da DPOC e ambos,
QUADRO 2 - Mecanismos de
DPOC e tabagismo, são fatores predisponentes para PAC .
defesa do hospedeiro idoso
Pacientes com DPOC grave têm função macrofágica pulmonar
prejudicada associada à hipoxia aguda , sendo que, no estágio final,
- Aumento homogêneo dos espaços aéreos
também ocorrem alterações na imunidade mediada por células .
Estudos longitudinais mostram aumento da mortalidade por
pneumonia nos fumantes, sendo que o aumento do risco está
associado com o número de cigarros fumados por dia e com o
tempo total do hábito de fumar . Tabagistas de mais de 20 cigarros
por dia têm risco três vezes maior de adquirir pneumonia do que os
que nunca fumaram, não havendo diferença de risco usando cigarros
de filtro ou com diferentes profundidades de inalação .
Almirall et al. , examinando o efeito da suspensão do fumo,
- Diminuição na maturação das células T
encontraram redução de aproximadamente 50% no risco de PAC
- Diminuição das células T imaturas circulantes
em ex-tabagistas após cinco anos de abstinência. Esses mesmos
autores sugeriram que aproximadamente um em cada três
pneumonias em adultos poderia ser evitada se ninguém da
- Diminuição na habilidade das células T para dividir
população fumasse. Eles calcularam que a proporção de casos de
- Diminuição na resposta das células T para IL-2
PAC atribuíveis ao tabagismo, sem a ação da DPOC, seria de 23%.
- Diminuição na produção de anticorpos para antígenos
Tabagistas têm mais freqüentemente pneumonia causada por C.
pneumoniae e Legionella sp. Comorbidade pulmonar está associada
- Aumento dos anticorpos para auto-antígenos
significativamente com PAC devida a S. pneumoniae e infecções
mistas, predispondo também a PAC causada por P. aeruginosa e
comum de pneumonia em países em desenvolvimento. Portanto, a
bacilos gram-negativos entéricos . Esta associação deve-se sua prevenção está relacionada à melhoria das condições provavelmente à colonização traqueobrônquica prévia na DPOC
MICRO E MACROASPIRAÇÃO INSUFICIÊNCIA CARDÍACA
Tracy et al. estudaram os efeitos da idade sobre a deglutição
A doença cardíaca tem grande impacto de saúde pública, por ser
orofaríngea em indivíduos normais, sem história de dano estrutural
comum entre os idosos e aumentar o risco de contrair pneumonia
de cabeça ou pescoço, alteração neurológica, desordens
cerca de duas vezes, também aumentando o risco de morte gastrintestinais ou disfagia. Os resultados sugerem que a deglutição
relacionado à mesma . Pneumonia está freqüentemente associada
orofaríngea altera-se com a idade avançada, provavelmente por
à insuficiência cardíaca, sendo que aumento do fluido alveolar aumento do tempo de processamento neural e diminuição do pulmonar e alterações nos mecanismos de defesa locais levam a este
controle oral. Assim, o envelhecimento per se pode ser causa de
risco aumentado . Koivula et al. mostraram que mesmo o disfunção orofaríngea. Juntamente com o aumento da carga de indivíduo com insuficiência cardíaca compensada, sem congestão,
microorganismos presentes na orofaringe, a aspiração torna-se um
apresenta aumento do risco de contrair pneumonia, de ser perigo maior nos pacientes idosos. hospitalizado e de morrer devido a ela.
Quando ocorre colonização do trato respiratório superior,
aspiração de secreções da orofaringe é o meio pelo qual o trato
COLONIZAÇÃO DA OROFARINGE
respiratório inferior é inoculado, representando o degrau inicial na
Colonização da orofaringe é um degrau inicial importante na
maioria das infecções respiratórias inferiores. Aspiração de pequena
patogênese de muitas pneumonias, inclusive na PAC . A má higiene
quantidade de secreção orofaríngea ocorre em aproximadamente
oral está associada ao aumento da flora anaeróbica. Pacientes
50% dos hospedeiros normais enquanto dormem
saudáveis raramente são colonizados na orofaringe por bacilos
provavelmente com maior freqüência quando há alteração do
gram-negativos aeróbicos, sugerindo clearance da orofaringe eficaz
sensório, uso de álcool ou de drogas sedativas. Como a
em população saudável predisposta à aquisição destas bactérias. concentração bacteriana das secreções da orofaringe é muito alta, na Aparentemente, a mucosa da orofaringe em indivíduos saudáveis
ordem de 108-10 organismos por ml, a aspiração de pequena
não é receptiva à adesão dos bacilos gram-negativos aeróbicos, quantidade (0,01 a 0,1ml) pode dar um grande inócuo bacteriano
resultando em rápida eliminação dos mesmos .
Pacientes idosos apresentam alterações nas barreiras de defesa
Alguns dos fatores que predispõem à aspiração incluem:
das mucosas, tornando-os mais suscetíveis à colonização da disfunção peristáltica esofágica; disfagia associada a carcinoma ou
orofaringe . O paciente idoso aumenta a taxa de colonização da
outra doença esofágica que altere a motilidade do esôfago, como
orofaringe por patógenos como Staphylococcus aureus e bacilos
esclerodermia, poliomiosite e megaesôfago; reflexo da tosse
gram-negativos aeróbicos (como Klebsiella pneumoniae e ineficaz; alteração do nível de consciência (letargia) por doença do Escherichia coli). Bacilos gram-negativos colonizam a orofaringe de
sistema nervoso central (por ex.: convulsões) ou medicamentos
idosos na freqüência de 19 a 60%, dependendo se os mesmos
sedativos; e tubos endotraqueais ou nasogástricos que alteram as
residem em suas casas ou em instituições . Isso pode ser
barreiras mecânicas normais . Pacientes com acidente vascular
transitório, com duração menor que três semanas, mas pode, neste
cerebral (AVC) e outras doenças neurológicas, que reduzem o nível
período, levar a aumento do risco de pneumonia causada por estes
de consciência ou alteram a motilidade do esôfago, podem ter
patógenos. Não se sabe qual o defeito nas defesas do hospedeiro
afetado seu mecanismo de deglutição. Sasaki et al. , estudando o
que predispõe a essa colonização. A presença de doença respiratória
reflexo da deglutição durante o dia e a noite em indivíduos com
e o fato de estar acamado são fatores de risco para colonização de
doença cerebrovascular e controles saudáveis, concluíram que
orofaringe por bacilos gram-negativos. Valenti et al. descreveram
durante a noite há importante fator de risco para o desenvolvimento
que a incidência de colonização por bacilos gram-negativos aumenta
de pneumonia por aspiração no idoso com doença cerebrovascular.
com debilidade e doença crônica, assim como com uso de sonda
Nilsson et al. , estudando 100 pacientes com AVC, verificaram que
nasogástrica. Esses autores mostraram que a colonização ocorre
após seis meses do episódio agudo, sete deles ainda persistiam com
particularmente no paciente que não pode deambular sem disfagia, levando a aumento do risco de pneumonia. assistência, que tem dificuldade em realizar suas atividades diárias ou
Kikuchi et al. investigaram a contribuição da aspiração
tem incontinência urinária, doença cardíaca, doença respiratória
silenciosa durante o sono na PAC em pacientes idosos. Mostraram
crônica ou estado clínico deteriorado.
que 71% dos idosos com episódios de pneumonia tinham aspirado,
PAC por bacilos gram-negativos entéricos é mais comum em
o que somente ocorreu em 10% dos indivíduos controles pareados
países em desenvolvimento que em países industrializados. Wolf et
por idade. Esses resultados podem indicar um importante papel da
al. investigaram a flora nasofaríngea de crianças saudáveis com
aspiração silenciosa no desenvolvimento da PAC no idoso. Esses
menos de cinco anos em Angola, Brasil e Holanda, para verificar se
achados mostram que a aspiração silenciosa ocorre mais
bacilos gram-negativos entéricos são mais freqüentemente parte da
freqüentemente em pacientes idosos e que mesmo idosos saudáveis
flora comensal em países em desenvolvimento. Foram excluídas as
podem não ser capazes de clarear essas secreções tão eficazmente
crianças que recebiam antibióticos e estavam malnutridas. As quanto indivíduos mais jovens. crianças brasileiras e angolanas tinham maior número de pessoas vivendo na mesma casa que as crianças holandesas (5,7 e 7 versus
ALCOOLISMO/CIRROSE HEPÁTICA
3,9, respectivamente). Bacilos gram-negativos entéricos foram
Embora seja difícil distinguir dos efeitos de outras comorbidades,
muito mais prevalentes nas crianças brasileiras (50%) e angolanas
o álcool parece ser um fator de risco para o desenvolvimento da
(57%) que nas holandesas (4%). Assim, ser portador de bacilos
pneumonia . Ruiz et al. encontraram o alcoolismo (definido
gram-negativos entéricos está associado com o número de como ingestão de álcool maior ou igual a 80g) como único fator de dependentes vivendo no mesmo domicílio. A alta taxa de risco independente para PAC grave. Esses autores não identificaram portadores de bacilos gram-negativos entéricos em crianças de
como fatores de risco nem o tempo de uso do álcool nem a história
Angola e do Brasil pode explicar por que estes bacilos são causa
de alcoolismo, sugerindo que os efeitos agudos do consumo do
álcool são mais importantes para o desenvolvimento da pneumonia.
mellitus) e aquelas associadas com imunodepleção grave (como
O abuso do álcool está associado com aumento da freqüência de
infecção por HIV e síndrome da imunodeficiência adquirida – AIDS e
pneumonias que vão à UTI, aumento do tempo de permanência
pacientes transplantados ou neutropênicos).
hospitalar e aumento do custo hospitalar .
Corticóide em dose diária igual ou maior que 10mg, ou dose
O álcool afeta adversamente os sistemas respiratório e total cumulativa de 700mg de prednisolona-equivalente, tem sido
. O abuso do álcool é associado com: aumento da
associado com significativo risco de infecção oportunística .
colonização da cavidade oral por flora gram-negativa; alteração do
Tratamento com corticóide na dose maior que 20mg/dia está
mecanismo de clearance respiratório, incluindo depressão dos associado mais freqüentemente com PAC grave. Este achado sugere reflexos glótico e da tosse, assim como da ação ciliar; risco de
que mesmo baixas doses de corticóide têm efeito imunossupressor,
alteração da consciência e de convulsões; e vômitos com favorecendo a infecção pulmonar grave, independente da doença de
aspiração . O número de granulócitos e linfócitos pode estar base, não suportando a hipótese de que tratamento preexistente diminuído com o álcool, sendo que a função dos granulócitos está
com baixas doses de corticóide poderia modificar favoravelmente a
adversamente afetada por exposição ao álcool, com alteração do
número de neutrófilos recrutados no sítio da infecção .
Uso excessivo de álcool e comorbidade hepática estão
FATORES AMBIENTAIS
significativamente associados com PAC devida a S. pneumoniae e
Os primeiros estudos em nosso meio a respeito dos efeitos
infecções mistas, sendo o abuso alcoólico associado com bacteremia
deletérios da poluição sobre o aparelho respiratório foram
devida particularmente ao S. pneumoniae. Infecções devidas a realizados no Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da bactérias atípicas, especialmente C. pneumoniae, também são mais
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo . Os efeitos
das condições atmosféricas da região central da cidade de São Paulo sobre o aparelho respiratório foram avaliados com o seguinte
DEFICIÊNCIA NUTRICIONAL
experimento: ratos foram mantidos, por períodos de seis meses e
O papel dos fatores nutricionais como fator de risco da PAC
um ano, no centro de São Paulo, sendo comparados com animais
ainda não está bem definido. Em revisão sobre nutrição e imunidade,
controles, alojados pelo mesmo período de tempo em local com
Chandra concluiu que, em certos estados de deficiência atmosfera “limpa”. Os resultados demonstraram que os altos níveis relacionados com má nutrição, ocorre diminuição da resposta dos
de poluição urbana foram responsáveis por lesões de natureza
mitógenos e antígenos, das células CD4+, da taxa CD4/CD8, da IgA
inflamatória nas vias aéreas dos ratos que ficaram aclimatados em
secretória e dos neutrófilos killing. Fletcher et al. encontraram
São Paulo . Após, foi realizado um estudo em 100 pulmões de
associação entre albumina sérica baixa, índice de massa corporal e
cadáveres necropsiados por morte violenta, sem antecedentes de
área muscular do braço com diminuição da hipersensibilidade tardia.
doença pulmonar ou doenças sistêmicas prévias. Foram escolhidas
Infecções respiratórias agudas são a principal causa de morte na
duas cidades representativas do Estado de São Paulo, de acordo com
infância em países em desenvolvimento. Victora et al. , em revisão
o Relatório de Qualidade de Ar da Cetesb: Guarulhos (altos níveis de
comissionada pela Organização Mundial de Saúde, examinaram as
poluição) e Ribeirão Preto (baixos índices de poluição). Foram
relações entre pneumonia e fatores nutricionais, estimando o efeito
constatadas, naqueles procedentes de Guarulhos, as mesmas
potencial das intervenções nutricionais. Baixo peso ao nascer, má
alterações de natureza inflamatória encontradas nos ratos ao longo
nutrição (avaliada por antropometria) e falta de amamentação no
peito parecem ser importantes fatores de risco para pneumonia na
O paciente idoso tem maior número de hospitalizações por
infância, sendo que intervenções nutricionais podem ter efeito doença respiratória quando aumenta a quantidade de ozônio na importante, reduzindo as mortes por pneumonia. Na América atmosfera, sendo este um significante e independente fator de risco Latina, promoção da amamentação materna teve efeito similar à
para admissão hospitalar por pneumonia . A grande amplitude
melhora do peso ao nascer, enquanto intervenções para prevenir má
térmica diária, assim como a elevada umidade relativa do ar, também
nutrição tiveram menor efeito. Nas outras regiões estudadas,
intervenções para prevenir má nutrição e baixo peso ao nascer foram mais promissoras que a promoção da amamentação materna.
VACINAÇÕES
Há também maior morbidade e mortalidade por doenças
As vacinações contra influenza e pneumococos podem diminuir
respiratórias nos pacientes idosos pobres, que não possuem casa
a gravidade da doença e morte por gripe e pneumonia, que ocorrem
adequada, são portadores de má nutrição crônica e têm menor
freqüentemente em pacientes com doenças crônicas .
acesso aos cuidados de saúde . Uma grande parte dos idosos
A seguir, revisaremos separadamente as vacinações antiinfluenza
institucionalizados tem níveis circulantes baixos de vitaminas, e antipneumocócica.
particularmente cianocobalamina, folato e piridoxina . A administração de zinco pode corrigir alguns dos declínios na resposta
VACINAÇÃO ANTIINFLUENZA
imune relacionados com a idade . Assim, é possível que a
A influenza é uma virose respiratória aguda que ocorre
propensão à infecção no idoso possa estar relacionada, pelo menos
esporadicamente durante todo ano. Geralmente, manifesta-se sob
em parte, à menor concentração dessas vitaminas ou de zinco forma de surtos e epidemias. A transmissão da gripe dá-se pelo teciduais. Deficiências de outras vitaminas, minerais e nutrientes
contato com pessoas gripadas, por meio do ar ou da saliva. É
podem também ser importantes, mas poucos estudos foram feitos
considerada uma doença de alta transmissibilidade, principalmente
em ambientes fechados. O termo influenza, do latim del fredo (frio), relaciona a doença com o inverno. Já o termo gripe tem sua origem
IMUNOSSUPRESSÃO
no russo khripu, que quer dizer rouquidão.
PAC pode surgir primariamente em indivíduos previamente
O vírus da influenza pertence à família Orthomyxoviridae e
saudáveis, como também como secundária a uma ou mais
apresenta três tipos antigênicos: A, B e C . Os vírus tipo A são
comorbidades predisponentes. Comorbidades, em termos de subdivididos com base em seus dois antígenos de superfície, a condições imunossupressivas, abrangem doenças com alguma hemaglutinina (H) e a neuraminidase (N). As três cepas do vírus da imunodisfunção local ou sistêmica (como DPOC ou diabetes influenza tipo A que freqüentemente afetam os seres humanos são:
H1N1, H2N2 e H3N2. Durante 1997 e 1998, outro tipo antigênico
vacina usada no Hemisfério Sul fossem: A/Sydney/5/97 (H3N2),
do vírus da influenza A (H5N1) foi isolado de humanos em Hong
A/New Caledonia/20/99 (H1N1) e B/Beijing/184/93.
Kong, sendo originado em aves (galinhas) .
Além do grau de similaridade entre as cepas dos vírus contidos na
Os vírus da influenza apresentam variação significante em suas
vacina e as cepas circulando na comunidade, o sucesso da vacina
proteínas de superfície. A infecção ou a vacinação com um subtipo
depende também da idade e do sistema imunológico do paciente.
do vírus proporciona pequena ou nenhuma proteção contra subtipo
Embora a influenza acometa mais freqüentemente crianças e
diferente, não sendo possível, desta forma, ser obtida imunidade
adolescentes, a taxa de morbidade e mortalidade é maior nos
prolongada. Os vírus da influenza B apresentam maior estabilidade
pacientes idosos, sendo o vírus da influenza A o responsável habitual
antigênica do que os vírus da influenza A, embora também possa
pelas epidemias, pandemias e mortes neste grupo . É questionável
ocorrer variação nos mesmos, acarretando epidemias importantes
se a idade é um fator de risco independente. Nguyen-Van-Tam e
de gripe. As pandemias causadas pelo vírus da influenza ocorrem de
icholson , revisando os prontuários de pacientes que morreram
forma imprevisível, como conseqüência de modificação genética,
por influenza durante a epidemia ocorrida na Inglaterra em 1989-
aproximadamente a cada 10-40 anos, afetando até 50% da 1990 (influenza H3N2), mostraram que 93% deles apresentavam comunidade. A pandemia de “gripe espanhola” (A/H1N1), em 1918,
uma ou mais doenças crônicas subjacentes. Nichol et al. notaram
o pior surto de influenza deste século, levou ao óbito uma estimativa
que a vacina é altamente eficaz em adultos jovens (70-90% em
de 20 milhões de indivíduos em todo o mundo . Nos Estados
adultos com idade inferior a 60 anos), ainda alcançando eficácia de 60
Unidos, estima-se que cerca de 150 mil pessoas, em média, são
a 70% nos pacientes idosos, parecendo ter menor efeito
internadas todo ano em decorrência de complicações associadas à
demonstrável naqueles com doenças de base. Outros estudos
influenza, a maioria delas com mais de 65 anos . A mortalidade
mostram que ela é eficaz em adultos trabalhando na área de saúde,
naquele país associada a cada uma das pandemias recentes, de 1957
em idosos vivendo na comunidade, como também em idosos com
[A/Ásia (H2N2)] e de 1968 [A/Hong Kong (H3N2)], tem sido
doenças médicas crônicas . Estudos realizados nos países onde foi
estimada como sendo de mais de 100.000 pessoas por período
implantada têm mostrado que a vacina contra influenza pode reduzir
pandêmico. O surto recente da nova cepa do vírus da influenza
em até 70% a necessidade de hospitalização e em até 80% o risco
H5N1, em Hong Kong, demonstra a contínua ameaça de uma nova
da ocorrência de óbitos entre as pessoas idosas .
Nichol e Goodman encontraram redução nas hospitalizações
Podem ocorrer dois tipos de variação no vírus da influenza. A
por pneumonia e influenza nos idosos entre 65 e 74 anos, sejam
mutação antigênica menor (drift) é dada pelo acúmulo estável de
saudáveis ou com alguma comorbidade, embora os resultados não
mutações que acarretam alterações dos aminoácidos nos locais alcançassem significância estatística entre os idosos saudáveis. Como antigênicos das proteínas, a hemaglutinina e/ou a neuraminidase.
a vacinação foi associada a significante economia e redução no risco
Essas alterações reduzem a ligação aos anticorpos, reduzindo de morte em ambos os grupos, os autores concluíram que a vacina subseqüentemente a imunidade preexistente do hospedeiro e contra influenza nos idosos de 65 a 74 anos, tanto saudáveis como facilitando a disseminação da influenza. A mutação antigênica maior
com risco aumentado, é associada a substancial benefício para a
(shift) é uma alteração dramática abrupta, ocorrendo na superfície
saúde. Entretanto, Remarque mostrou que a indução de
das proteínas hemaglutinina e/ou neuraminidase, em decorrência
anticorpos com a vacina antiinfluenza não é sempre ótima nos
das substituições de todo o segmento gênico viral por outro idosos, podendo esta menor eficácia ser devida a fatores múltiplos, segmento de um vírus da influenza de animal (por ex.: aviário). Visto
que incluem estado de saúde e exposição prévia ao vírus da
que a população apresenta pequena ou nenhuma imunidade para
influenza. Nichol et al. notaram que, em pacientes idosos com
essas novas cepas, elas ocasionam pandemias associadas com doença pulmonar crônica, a influenza é associada a significantes morbidade e mortalidade inusitadamente elevadas. Além da drift e
efeitos adversos à saúde, sendo a vacinação antiinfluenza
da shift antigênica, o reaparecimento de uma cepa antiga do vírus é
acompanhada de substanciais benefícios, incluindo diminuição das
A prevenção da influenza ou a redução de sua gravidade é
Atualmente, há fortes evidências de que a vacinação antiinfluenza
direcionada para a administração da vacina inativada, que é dada seis
protege pacientes de alto risco da hospitalização e morte por
a oito semanas antes do início da estação sazonal da influenza. A
influenza . Possivelmente, a maior evidência da eficácia da vacina
vacina é administrada através da via intramuscular, devendo ser antiinfluenza venha da Holanda, onde, em 1991-1992, foi conseguida aplicada anualmente. De acordo com a FUNASA, a influenza tem
permissão ética para realizar trabalho controlado, randomizado,
maior prevalência no período de março a agosto, quando ocorre
duplo-cego, com evidência sorológica da vacina em pacientes
maior circulação do vírus . Como outros vírus podem causar a
idosos . Os resultados mostraram que a vacina reduz em 50% a
gripe, a proteção conferida pela vacina está relacionada apenas aos
incidência de influenza, parecendo ser esta proteção maior em
tipos (cepas) dos vírus que a compõem. As características das cepas
pacientes com história de imunização anual repetida e entre aqueles
atualmente em atividade formam a base para a escolha daquelas
com condições de base de alto risco. Assim, é razoável concluir que a
cepas a serem incluídas em cada vacina anual para a influenza. São
vacina contra a influenza, dada a pacientes de alto risco,
essas mutações dos vírus da gripe que induzem mudanças na substancialmente reduz a possibilidade de morte e hospitalização composição da vacina a cada ano, baseadas em recolhimento do
durante períodos de epidemia. Assim, a vacina deve ser usada nos
vírus em nível mundial no ano precedente . No Brasil, esse indivíduos idosos, principalmente naqueles portadores de doenças processo de coleta e envio é realizado por três laboratórios de
crônico-degenerativas e/ou residentes em instituições. Os
referência: Adolfo Lutz (SP), Fiocruz (RJ) e Evandro Chagas (PA).
profissionais (médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, assistentes
Um estudo multicêntrico vem sendo realizado em cinco capitais do
sociais, etc.) que têm contato direto com idosos em instituições,
País, com o intuito de implementar a coleta de material para melhor
hospitais ou em visitas domiciliares, também devem ser vacinados .
identificação do vírus . A vacina por vírus inativado (morto) contém
Quando as cepas vacinais epidêmicas são adequadamente pareadas,
três cepas (duas do vírus da influenza A e uma do da influenza B),
as elevadas percentagens de vacinação em casas de saúde e outros
representando aquelas mais prováveis de circular no Hemisfério Sul
ambientes de atendimento crônico induzem imunidade global e
durante o próximo inverno. Para o ano 2000, a Organização Mundial
de Saúde (OMS) recomendou que as cepas a serem incluídas na
A vacina também é eficaz na população mais jovem. Desde que a
transmissão na comunidade pode ser interrompida pela vacinação
QUADRO 4 - Indicações para
das crianças em idade escolar, este grupo também deve ser
O uso da vacina antiinfluenza*
vacinado . Ahmed et al. mostraram que a vacina antiinfluenza
reduziu as admissões hospitalares por influenza, pneumonia,
bronquite e enfizema em pacientes com 16 anos ou mais. Neuzil et
- Doença pulmonar (DPOC, tuberculose, asma)
al. observaram, estudando a eficácia da vacina para influenza em
- Doença cardíaca (reumática, isquêmica)
mulheres com menos de 65 anos, que certas condições médicas
crônicas levam à morbidade e mortalidade substancial por eventos
- Disfunção renal (nefrite crônica, síndrome nefrótica)
cardiopulmonares agudos durante os surtos de influenza. Há
aumento da mortalidade e maior incidência de pneumonia
- Doenças neurológicas (AVC, doença de Parkinson, esclerose
bacteriana e cetoacidose em pacientes diabéticos durante epidemias
de influenza . Nestes pacientes, Colquhoun et al. encontraram
redução de 79% na hospitalização com o uso da vacina antiinfluenza
no período imediatamente precedendo as epidemias. Assim, é
também necessário imunizar anualmente com a vacina antiinfluenza
- Terapia imunossupressora (inclusive corticóides)
esta população. As principais indicações para a vacinação
- Pós-transplante de órgãos (inclusive de medula óssea)
- Neoplasma maligno (inclusive hematogênico)
As reações adversas à vacina, que são dor local, febre e cefaléia,
são discretas . A vacinação é segura, com somente relatos
- Disfunção esplênica ou asplenia (inclusive anemia falciforme)
ocasionais de anafilaxia. Na epidemia de 1976-1977, nos Estados
Unidos, foi relatada a possibilidade de que a vacina pudesse ter sido
- Condições sociais/ambientais (asilados, índios)
fator desencadeante da síndrome de Guillain-Barré, associação esta
não comprovada em estudos posteriores . As contra-indicações à
- Cuidadores de pacientes de alto risco (inclusive domici-
utilização da vacina são doença febril aguda grave, alergia às
proteínas do ovo e alergia a outros componentes da vacina
- Mulheres grávidas com condições de alto risco que estarão no
(timerosal e neomicina). A administração simultânea das vacinas
2º ou 3º trimestre de gravidez durante a epidemia de influenza
antiinfluenza e antipneumocócica não aumenta a incidência de
- Crianças e adolescentes recebendo terapia com AAS por
A influenza é o melhor modelo conhecido para o estudo da co-
infecção bacteriano-viral. Epidemias de influenza resultam em aumento na taxa de admissão hospitalar por pneumonia bacteriana
damente 80% das infecções que ocorrem no paciente idoso. Os seis
causada por pneumococos, Haemophilus influenzae e sorotipos associados com mais de 85% da doença pneumocócica Staphylococcus aureus. Similarmente, maior incidência de doença
invasiva resistente à penicilina nos Estados Unidos e Reino Unido ou
meningocócica, particularmente com formas graves, segue surtos de
foram incluídas na vacina ou estimulam a imunidade cruzada . Em
influenza com intervalo de duas semanas. Embora o mecanismo
Israel, foram identificados 24 sorogrupos em 398 amostras de
preciso não seja conhecido, parece estar envolvida a depressão da
pneumococos provenientes de pacientes adultos hospitalizados
atividade bactericida dos fagócitos do hospedeiro pelo vírus da com pneumonia pneumocócica. Destes 24 sorogrupos, somente 13 influenza. Co-infecção bacteriano-viral não é justificativa para a estão incluídos na vacina pneumocócica, sendo que estes 13
prescrição de antibióticos sistêmicos na doença viral .
sorotipos perfizeram 94% de todos os pneumococos isolados .
Várias doenças virais serão melhor prevenidas através da
A vacina é altamente purificada, contendo 25 microgramas de
imunização, encorajando o desenvolvimento de vacinas virais e
cada um dos 23 sorotipos de pneumococos, englobados no volume
campanhas de imunização. Novas abordagens da vacinação, tais de 0,5ml para injeção intramuscular ou subcutânea. Pode ser como o desenvolvimento de vacinas a partir de vírus vivo para
administrada simultaneamente com a vacina antiinfluenza, em sítios
administração intranasal, podem melhorar o controle da influenza
diferentes. Reações leves à vacinação são comuns. Riley et al.(71)
relataram eritema leve e enduração no sítio da injeção em 27% dos pacientes, com febre em grau baixo em 7%, não havendo reações
VACINA ANTIPNEUMOCÓCICA
sérias. Deve-se retardar a imunização, se possível, em casos de
A vacinação contra a doença pneumocócica tem longa história,
febre, doença aguda e recaída de doença crônica até sua
que começou com uma vacina feita há quase 80 anos, recuperação. Há somente relatos ocasionais de anafilaxia. Contra-desenvolvendo-se através da descoberta dos tipos de indicações ao uso da vacina incluem hipersensibilidade pregressa ou pneumococos. Isto levou à imunização passiva como forma de história de alergia aos componentes da mesma, doença respiratória
tratamento a partir dos anos 30 . A vacina pneumocócica que é
ou infecção aguda, gravidez e crianças menores de dois anos de
utilizada atualmente tem mostrado sucesso, sendo eficaz em idade (a resposta sorológica adequada só ocorre naquelas com idade prevenir infecções pneumocócicas invasivas em pacientes superior a dois anos). A vacina deve ser aplicada pelo menos duas imunocompetentes. Contém antígenos capsulares purificados semanas antes da esplenectomia. O intervalo entre o uso da vacina e (polissacarídeos) de 23 dos mais de 80 tipos diferentes de S.
de terapia imunossupressora deve ser o mais longo possível .
pneumoniae (1, 2, 3, 4, 5, 6B, 7F, 8, 9N, 9U, 10, 11A, 12F, 14, 15B,
A incidência da pneumonia pneumocócica bacteriêmica tem
17F, 18C, 19A, 19F, 20, 22F, 23F, 33F). O antígeno polissacarídeo
aumentado, sendo que, na Suécia, este aumento foi substancial na
induz anticorpo tipo-específico que aumenta a opsonização,
última década . Estudos recentes sugerem que a vacina traz
fagocitose e destruição dos pneumococos pelas células fagocíticas .
economia de custos nos países desenvolvidos em termos de
Os tipos componentes da vacina cobrem cerca de 85% dos
prevenção da bacteremia . A eficácia da vacina pneumocócica é de
sorotipos causadores de pneumonia e de doença pneumocócica
cerca de 90% em prevenir bacteremia pneumocócica e pneumonia
invasiva na comunidade . Estes 23 sorotipos estão freqüentemente
pneumocócica em adultos jovens sem outra doença . Fatores
associados com bacteremia, sendo responsáveis por aproxima-
influenciando a eficácia da vacina incluem idade do indivíduo, o
estado de sua resposta imune, a presença ou ausência de doença
todos os indivíduos infectados com o vírus HIV.
médica básica e o nível de anticorpos pneumocócicos obtidos.
A vacina antipneumocócica é aplicada somente uma vez, com
A vacina pneumocócica parece ser mais eficaz em pessoas algumas exceções. Revacinação com intervalo menor que cinco anos
saudáveis, ainda havendo controvérsia acerca da eficácia da vacina
pode causar reações graves . Por este motivo, como regra geral, a
nos idosos e naqueles com comorbidades . Fine et al. concluíram,
revacinação não é recomendada, a não ser nos indivíduos de alto
em metanálise, que a vacina pneumocócica oferece proteção de
risco após seis anos de intervalo . Candidatos à revacinação
cerca de 66% contra pneumonia pneumocócica em pacientes pneumocócica incluem os que apresentam alto risco de infecção normais e de baixo risco, mas não em pacientes de alto risco pneumocócica fatal: pacientes asplênicos que receberam (aqueles com condições médicas crônicas ou doenças previamente a vacina com 14 sorotipos, aqueles com declínio imunossupressoras). A doença pneumocócica invasiva está acelerado nos títulos de anticorpos, com insuficiência renal, nefrose associada com elevada mortalidade no paciente idoso. Embora a
ou recipientes de transplantes. Os indivíduos com 65 anos ou mais
vacina pneumocócica provavelmente dê somente proteção limitada
devem ser revacinados se foram vacinados previamente há mais de
contra pneumonia pneumocócica no idoso, ela fornece cinco anos e tinham menos que 65 anos quando receberam a aproximadamente 50-80% de proteção contra doença
primeira dose . Estudos clínicos e sorológicos sugerem que a
pneumocócica invasiva . Assim, a vacinação antipneumocócica proteção induzida pela vacina declina após três a cinco anos, levando deve ser recomendada para todos os pacientes idosos, embora sua
à preocupação acerca da revacinação de rotina. Porque a vacina
eficácia possa ser menor nos mesmos, assim como nos indivíduos
polissacarídea pneumocócica não induz memória imunológica, são
com algumas das categorias de alto risco . Na Alemanha, desde
esperados benefícios da revacinação de curta duração. Deve ser
1998, a STIKO recomenda que a vacinação pneumocócica seja
considerada, como estratégia alternativa, a vacinação com uma das
efetuada em todos os indivíduos a partir dos 60 anos, assim como nas
novas vacinas protéicas ou com a vacina onjugada pneumocócica
crianças, adolescentes e adultos com alto risco devido à doença
seguida por reforço com a vacina polissacarídea. O uso das vacinas
primária. Assim, a vacina é recomendada para todos os indivíduos
pneumocócicas de nova geração pode dar proteção por toda a vida
idosos, sendo particularmente indicada: naqueles institucionalizados,
contra a infecção pneumocócica, sendo que seu uso teria um imenso
nos quais é maior a incidência dessa infecção; nos portadores de
doenças crônicas, como diabetes mellitus, doença pulmonar
Na literatura, encontram-se resultados controversos sobre a
obstrutiva crônica, insuficiência cardíaca, cirrose hepática; e
eficácia da vacina antipneumocócica. Ortqvist et al. estudaram, em
. A vacina também é pacientes idosos e de meia-idade (50 a 85 a nos) não
indicada para os pacientes esplenectomizados , assim como imunocomprometidos, a eficácia da vacina pneumocócica aqueles considerados em risco, particularmente adultos jovens que
polissacarídea na prevenção da pneumonia pneumocócica e da
recentemente começaram a beber grandes quantidades de álcool
pneumonia como um todo. Concluíram que esta vacina não
ou tiveram o diagnóstico de diabetes mellitus . Vacinação contra o
preveniu a pneumonia como um todo, nem a pneumonia
S. pneumoniae também é recomendada para pacientes pneumocócica, pois 19% dos pacientes vacinados e 16% do grupo imunossuprimidos, incluindo aqueles com insuficiência renal crônica,
placebo desenvolveram uma nova pneumonia, diagnosticada como
síndrome nefrótica e transplantados renais. As principais indicações
pneumocócica em 5,6% do grupo vacinado e em 4,5% do grupo
da vacinação antipneumocócica estão no Quadro 5.
placebo, não surgindo diferença na taxa de morte entre os dois
Kazancioglu et al. , estudando prospectivamente 21 pacientes
grupos. Entretanto, nesse estudo a idade média dos pacientes foi
com transplante renal funcionante, observaram que a vacinação
muito alta, o que pode ter levado os mesmos a responderem menos
pneumocócica não provocou efeitos adversos sistêmicos ou locais.
eficazmente à vacina. Esse estudo também não demonstrou
A mesma foi eficaz, levando a aumento significativo dos títulos de
conclusivamente que não haja proteção contra a doença invasiva.
anticorpos seis e 12 semanas após a vacinação, em todos os
Koivula et al. também relataram que não houve significativa
proteção para pneumonia pneumocócica em pacientes idosos com
Diabetes também é fator de risco para bacteremia em pacientes
60 anos ou mais, sendo a eficácia da vacina somente de 15%.
com pneumonia pneumocócica, levando a aumento da mortalidade.
Entretanto, em pacientes com fatores médicos de risco para contrair
Pacientes diabéticos têm resposta normal à vacinação pneumonia, houve eficácia protetora significante de 59%.
pneumocócica, que se mostra eficaz na prevenção da pneumonia .
Concluíram que a vacinação pneumocócica reduz
Nos pacientes com diabetes mellitus, a vacinação é importante significativamente a incidência de pneumonia em pacientes idosos intervenção de saúde pública para reduzir a mortalidade e com alto risco de contrair pneumonia. Como 34% da população de morbidade por influenza e pneumonia.
60 anos ou mais está nesse grupo de alto risco, sendo difícil organizar
Singer e McCune recomendam imunização específica nos vacinação de modo eficiente somente para o mesmo, a melhor
pacientes com doenças reumáticas, especialmente naqueles em uso
de drogas imunossupressoras. Santamauro e White relataram
Mostrando resultados diferentes dos citados anteriormente,
sucesso encorajador vacinando contra organismos encapsulados
Hutchison et al. , fazendo uma metanálise com informações de 13
pacientes portadores de doença de Hodgkin. Segundo Arunabh e
trabalhos randomizados ou quase-randomizados com mais de
Niederman , a vacina é mais eficaz quando administrada na fase
65.000 pacientes, concluíram que a vacina pneumocócica reduz em
precoce do curso de uma doença crônica.
Guerrero et al. , revendo os dados de 2.000 pacientes
infectados por HIV, concluíram que a imunização pneumocócica foi associada com diminuição de cerca de 70% no risco de pneumonia. Este efeito foi observado mesmo quando a imunização foi feita naqueles com contagem de CD4 menor que 100/mm3. Gebo et
al. relataram que a eficácia da vacina pneumocócica diminuiu nos pacientes com HIV e CD4 em número inferior a 200 céls/mm3. Assim, estes dados suportam a recomendação atual de, o mais precocemente possível, imunizar com a vacina antipneumocócica
QUADRO 5 - Indicações para o uso
conseguem adequada resposta humoral seguindo imunização com
da vacina antipneumocócica* (Graus
antígeno polissacarídeo. Silk et al. fizeram estudo controlado,
de risco em ordem decrescente)
comparando a resposta da imunização pneumocócica em crianças com infecção recorrente e em grupo controle saudável da mesma
Grupo 1 - doença de Hodgkin, mieloma múltiplo, deficiência de
idade. Ambos os grupos foram imunizados com a vacina
imunoglobulina, lúpus eritematoso disseminado, deficiência
pneumocócica, sendo os títulos de anticorpos medidos antes e após
imunológica induzida por drogas, transplante renal, doença
quatro semanas da imunização. Os sorotipos mais imunogênicos
maligna hematológica, carcinoma, infecção por HIV e AIDS
foram 3, 4, 7F, 8, 9N e 18C, enquanto os sorotipos 6A e 14 foram os
Grupo 2 - esplenectomia ou disfunção esplênica, anemia falci-
menos imunogênicos. Concluíram que a vacina pneumocócica é
imunogênica nessa faixa etária, mas que significativa percentagem de
Grupo 3 - diabetes mellitus, doença pulmonar crônica, doença
crianças com infecção sinopulmonar recorrente falham em produzir
cardíaca crônica, insuficiência renal crônica requerendo diálise,
anticorpos sorotipo-específicos adequados seguindo a imunização
Grupo 4 - idosos (60 anos ou mais) Referência: 90
Concluindo, as evidências mais recentes são relativamente claras
quanto à prevenção da doença invasiva, parecendo razoável inferir
83% o risco de infecção sistêmica devida aos tipos de pneumococos
que a vacina oferece cerca de 60% de proteção. Isso se aplica a
incluídos na vacina e em 73% a infecção sistêmica devida a todos os
indivíduos saudáveis, incluindo aqueles com mais de 65 anos e
pneumococos. Esses autores não acharam evidência de que a vacina
aqueles de todas as idades com condições tais como diabetes
tenha menor eficácia no idoso, nos institucionalizados ou naqueles
mellitus, doença cardíaca e pulmonar crônica, mas provavelmente
com doença crônica. Do mesmo modo, Nichol et al. , estudando
não naqueles que estão imunocomprometidos. Quanto à prevenção
os benefícios associados à vacinação pneumocócica em idosos com
da pneumonia isolada, evidência de eficácia da vacina é limitada a
doença pulmonar crônica, observaram que a vacinação esteve
associada a menor número de hospitalizações por pneumonia e de
Novos conhecimentos sobre as causas e a patogênese das PAC
mortes, assim como com menores custos médicos. Em adição, uma
levarão a novas estratégias para prevenir essas doenças. Vacinas
série de estudos epidemiológicos sugerem que a vacina é 60 a 70%
novas e melhores, controle ambiental e educação dos médicos e do
eficaz em proteger pacientes idosos, podendo ter papel protetor
público possibilitarão que novas armas sejam aplicadas, como a
particularmente contra a doença invasiva . Dados de quatro
imunização feita nos pacientes hospitalizados .
estudos de caso-controle, envolvendo principalmente pacientes idosos e de meia-idade tardia, produziram estimativa de eficácia
ASSOCIAÇÃO DAS DUAS VACINAS
contra a doença invasiva variando de 56 a 81%. Para pacientes com
mostrou o benefício aditivo da vacinação contra
aumento de risco, por apresentarem comorbidades cardíaca ou
influenza e pneumococos durante três surtos de influenza em
pulmonar, a estimativa foi de 61 a 77% . Nenhum desses estudos
pacientes idosos com doença pulmonar crônica. Nesse período, a
mostrou qualquer proteção para pacientes com alteração da vacinação antiinfluenza isolada foi associada com redução de 52% imunidade, exceto naqueles com asplenia anatômica (proteção de
nas hospitalizações por pneumonia e redução de 70% nas mortes.
Nesse mesmo período, a vacinação antipneumocócica isolada
Há problema crescente com a resistência betalactâmica, reduziu 27% das hospitalizações por pneumonia e 34% das mortes.
surgindo pneumococos multirresistentes em muitos países. O As duas vacinas conjuntamente demonstraram benefícios aditivos, impacto clínico da infecção por S. pneumoniae droga-resistente não
levando à redução de 63% nas hospitalizações por pneumonia e de
está completamente definido, mas relatos sugerem que o 81% nas mortes. prognóstico é ruim em pacientes com meningite pneumocócica
Entretanto, resultados diferentes foram obtidos por Honkanen
droga-resistente. A vacina polissacarídea capsular pneumocócica
. Estes autores estudaram, em idosos na Finlândia, a eficácia
pode prevenir muitas infecções invasivas droga-resistentes. Se a da administração simultânea das vacinas antiinfluenza e vacina pneumocócica conjugada conseguir erradicar os portadores,
antipneumococos versus a vacina antiinfluenza isolada na prevenção
semelhante à ação da vacina conjugada Hib, a vacinação pode ser a
da pneumonia, pneumonia pneumocócica e bacteremia
maior arma contra a disseminação da infecção pneumocócica pneumocócica. Observaram eficácia aditiva da vacina pneumocócica
somente nos casos de bacteremia pneumocócica (+60%). Assim, a
Nos idosos, o pneumococo leva mais freqüentemente à vacina polissacarídea pneumocócica não mostrou qualquer proteção
pneumonia, mas em crianças ocorre principalmente otite média e
adicional para pneumonia não complicada com bacteremia entre os
meningite. Entre 481 casos de meningite bacteriana não-
meningocócica, 28% foram causados por S. pneumoniae .
Hueston et al. analisaram o impacto financeiro que a vacinação
AVALIAÇÃO DAS VACINAS
antipneumocócica provocaria caso fossem vacinados todos os
A vacinação contra S. pneumoniae tem sido recomendada por
recém-nascidos. A análise foi limitada a casos de meningite e sua eficácia e diminuição dos custos na população idosa e bacteremia devidas a S. pneumoniae, pois os dados são escassos ou
imunocomprometida. O US Public Health Service estabeleceu
inconclusivos para otite média e pneumonia. Baseado somente como ideal a taxa de 60% de imunização para idosos e pacientes de nestas duas doenças, a imunização com vacina pneumocócica
. Entretanto, nos Estados Unidos, a taxa de imunização
poderia salvar 222 vidas por milhão de crianças vacinadas por ano.
conseguida foi somente de 1/3 a 1/2 da estabelecida .
Análise dos custos diretos (custos projetados da imunização menos
Vold Pepper e Owens avaliaram a vacinação pneumocócica no
economia por diminuição da doença) mostra que o programa de
pessoal militar na ativa. A vacinação aumentou a expectativa de vida
vacinação pneumocócica poderia resultar em economia entre US$
em 0,03 dia e diminuiu de US$ 9,88 o custo por pessoa. Vacinação de
0,08 e US$ 2,42 por criança. Mais pesquisas devem focalizar este
todos os 575.000 militares na ativa dos Estados Unidos poderia levar
aspecto, esperando-se que a vacinação seja introduzida para uso nos
à economia de US$ 5,7 milhões durante o tempo em que estes
indivíduos estivessem vivos e em atividade. Baseados nesses
Muitas crianças com infecção sinopulmonar recorrente não resultados, os militares deveriam considerar a imunização com
vacina antipneumocócica para todos os membros militares na ativa.
Na primeira Campanha de Vacinação dos Idosos no Brasil,
realizada entre os dias 12 e 23 de abril de 1999, foram vacinados 7,8
ZANAMIVIR/OSELTAMIVIR
milhões de idosos. Esta foi a maior campanha já realizada no mundo.
A enzima neuraminidase é uma glicoproteína de superfície,
Foram distribuídos 8,7 milhões de doses da vacina contra gripe e 1,6
essencial para a replicação do vírus da influenza tipo A e B
milhão de doses contra doença pneumocócica, estas últimas neuraminidase promove a liberação do vírus da influenza das células aplicadas em idosos hospitalizados e residentes em instituições
infectadas e facilita a disseminação do vírus no trato respiratório.
geriátricas. Em todo o país, 25 mil postos aplicaram a vacina Recentemente, foram desenvolvidos inibidores específicos da antiinfluenza, com o envolvimento de 75 mil pessoas. Cerca de 900
neuraminidase do Myxovirus influenzae tipo A e B, que têm
mil doses da vacina foram empregadas na vacinação de índios e de
grande parte do pessoal da área de saúde, sendo também entregues
modifique sua estrutura antigênica anualmente, o sítio ativo da
aos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais dos neuraminidase é altamente preservado em todas as cepas Estados. Foram gastos R$ 66,8 milhões na aquisição das vacinas,
clinicamente relevantes, tornando a neuraminidase um alvo ideal
agulhas e seringas. Nessa campanha, os idosos também receberam a
para a intervenção antiviral. Os inibidores da neuraminidase
representam um avanço importante no tratamento da influenza, porque têm um espectro antiviral maior que os vistos com os
DROGAS ANTIVIRAIS
inibidores M2, assim como melhor tolerância e potencial menor para
Entre as drogas antivirais temos: amantadina e rimantadina e,
mais recentemente, zanamivir e oseltamivir.
inibidores da neuraminidase pode levar ao surgimento de resistência, sendo que desde já estão sendo analisados os
AMANTADINA E RIMANTADINA
mecanismos de resistência dos mutantes e desenvolvendo-se testes
Amantadina e rimantadina (esta última não registrada na Europa)
para determinar a suscetibilidade dos mesmos
são recomendadas pelo Centers for Disease Control and Prevention
O primeiro desse tipo de compostos a surgir foi o zanamivir, o
(CDC) na profilaxia da infecção por Myxovirus influenzae tipo A, não
qual não é ativo por via oral, sendo administrado por pó inalado ou
tendo indicação em infecções por vírus da influenzae B ou C
por via intranasal (spray ou gotas). O zanamivir é aprovado para
Nos Estados Unidos, amantadina foi aprovada para profilaxia da
tratamento da doença aguda causada por influenza em pessoas com
infecção da influenza (H2N2) em 1966 e para profilaxia e tratamento
idade igual ou superior a 12 anos, que apresentam sintomas por não
em 1976; rimantadina foi aprovada para tratamento e profilaxia da
mais que dois dias, quando o vírus está circulando na comunidade
influenza A em 1993. Elas agem inibindo a replicação viral através da
O zanamivir tem indicação precoce para tratamento curativo da
inativação do canal iônico da proteína M2 viral. Surge rapidamente
influenza, assim que os primeiros sintomas surgem, particularmente
resistência a essas drogas in vitro e in vivo, sendo as variantes em pacientes idosos vacinados (a vacinação é efetiva em somente 70
resistentes do vírus transmissíveis e patogênicas
. Não é aprovado para profilaxia da influenza.
Recomenda-se que durante epidemia por influenza A, pacientes
Tem-se mostrado eficaz comparado com placebo, reduzindo a
de alto risco não protegidos recebam a vacina e sejam tratados com
duração e intensidade dos sintomas da gripe com boa tolerância
amantadina ou rimantadina por duas semanas, enquanto se espera o
assim como reduz o consumo de antibióticos para complicações
desenvolvimento dos anticorpos protetores. A indicação da
amantadina independe de o paciente ter sido imunizado com a sintomas maiores foi reduzido entre 1 e 2,5 dias após o tratamento vacina antiinfluenza, já que age por mecanismo de ação diferente,
com zanamivir, sendo esta redução de 2,5 a 3,2 dias nos pacientes de
não sendo usada como substituta da vacinação . Embora a atividade
. São relatados benefícios do tratamento com essa
da amantadina e da rimantadina contra influenza A seja bem droga, reduzindo o tempo de volta às atividades normais, o consumo conhecida, seu uso é ainda limitado. Esses agentes têm só efeito
do paracetamol (acetaminofeno) e o nível de interferência da
curativo moderado, sendo mais eficazes na profilaxia. A eficácia da
influenza no sono, trabalho, descanso e atividades de recreação
amantadina como profilática foi de 61% e a da rimantadina de 64%.
A suscetibilidade ao zanamivir é extremamente variável mesmo
No tratamento da influenza, amantadina e rimantadina diminuíram
antes do tratamento, não se correlacionando com a velocidade da
significantemente a duração da febre (em 1,00 e 1,27 dias, eliminação viral. Isolados com aparente limitada suscetibilidade ao
zanamivir provaram ser suscetíveis in vivo na doninha. Análise
A amantadina é utilizada na dose de 50 a 100mg por dia, na
seqüencial não revelou alterações na hemaglutinina e genes da
profilaxia dos idosos em contato com o portador doente, seja na
neuraminidase na maioria dos isolados, sendo que as poucas
comunidade ou em instituições. A medicação é mantida até 24 horas
alterações observadas foram todas variantes naturais. Alterações
após o desaparecimento dos sintomas do portador. Nos pacientes
aminoácidas que tenham sido previamente identificadas in vitro não
que já desenvolveram a doença, é iniciada na mesma dose até 24 a 48
foram envolvidas com diminuição da suscetibilidade. Em trabalhos
horas após o início dos sintomas, sendo suspensa após 48 horas da
clínicos, houve redução da contagem viral após 24 horas de
ausência dos mesmos. A tolerância não é boa, sendo sua utilização
tratamento, sem reemergência do vírus até o final do tratamento,
limitada pelo perfil de efeitos colaterais
não surgindo mudança na suscetibilidade ao zanamivir antes e após o
rimantadina é melhor tolerada. Os eventos adversos associados com
amantadina e rimantadina incluem transtornos do sistema nervoso
O efeito do zanamivir inalado no tratamento da influenza foi
central e gastrintestinais (náuseas e vômitos). Os efeitos sobre o
avaliado no Canadá em 1997-1998. Após somente 12 horas de
sistema nervoso central são mais freqüentes com a amantadina (a
tratamento (uma dose), os títulos virais nas secreções faríngeas
qual está também registrada para o tratamento da doença de haviam diminuído. Houve redução de 47% no tempo médio de Parkinson) do que com a rimantadina. Em adição, a taxa de alívio dos sintomas, não sendo detectadas amostras virais resistentes descontinuação da amantadina foi significantemente maior do que
ao zanamivir. A dose utilizada do zanamivir inalado, sob forma de pó
com a rimantadina, quando usadas na profilaxia da influenza em
seco, foi de 10mg duas vezes por dia, por cinco dias, iniciado no
através dos rins, devendo-se observar a função renal, já que existe a
é feito duas a seis vezes por dia, por quatro a cinco dias, iniciando
quatro horas antes até um a dois dias após a inoculação com vírus da
constantes é aproximadamente 25 vezes maior em idosos
. Há trabalho demonstrando que o tratamento de curta
comparados com indivíduos jovens. Entretanto, a diferença de
duração (cinco dias) com zanamivir intranasal é ineficaz
. disponibilidade da medicação entre indivíduos jovens e idosos não foi
, utilizando o zanamivir por via inalatória e suficiente para necessitar de ajustes da dose nos idosos. O
inalatória mais spray intranasal em adultos, demonstraram que os
oseltamivir absorvido é eliminado, principalmente (> 90%) pela
pacientes que receberam o zanamivir recuperaram-se conversão para o metabólito ativo, que não é metabolizado, na significantemente mais rápido, tendo sido o mesmo bem tolerado.
urina. A droga ativa é eliminada completamente por excreção renal.
Efeitos adversos do zanamivir terapeuticamente ou profilaticamente
Em pacientes com insuficiência renal, o clearance do metabólito
parecem similares aos dos pacientes recebendo placebo. Os efeitos
diminuiu linearmente com o clearance da creatinina. É
adversos mais freqüentemente relatados em estudos terapêuticos
recomendado ajuste da dose em pacientes com clearance de
foram sinais e sintomas nasais, diarréia, náusea, cefaléia, bronquite e
creatinina menor do que 30ml/min (1,8L/h), sendo usada a redução
A indicação potencial do zanamivir como profilático foi
O oseltamivir pode provocar efeitos colaterais relacionados ao
demonstrado em asilo, quando a incidência da influenza A sofreu
trato gastrintestinal, principalmente náuseas e vômitos, que
redução com o uso do zanamivir, 10mg por inalação oral, uma vez
habitualmente são discretos e de natureza transitória
eventos adversos, encontrados raramente, foram insônia,
administração profilática do zanamivir, quando a droga é dada em
enxaqueca e dor abdominal. A administração com o alimento pode
dose única por via intranasal, pode reduzir significantemente os aumentar a tolerabilidade em alguns pacientes. Até o presente, não títulos do vírus no pulmão de ratos, também diminuindo tanto os
há dados disponíveis que permitam avaliar o potencial do fosfato de
títulos virais como os sintomas nas doninhas. Estes resultados oseltamivir em causar malformações fetais ou toxicidade fetal indicam que o zanamivir pode ter validade clínica como agente
quando utilizado em mulheres grávidas. Em ratos, durante a
profilático, protegendo grupos de alto risco da infecção por lactação, o oseltamivir e seu etabólito ativo são excretados no influenza.
Mais recentemente, surgiu o fosfato de oseltamivir, que é um
forte inibidor seletivo da neuraminidase dos vírus da influenza A e B.
AVALIAÇÃO
Tanto o zanamivir quanto o oseltamivir foram aprovados nos
Infecções por vírus são de alto risco em grupos de indivíduos
Estados Unidos em 1999, não estando aprovados para profilaxia da
como crianças pequenas, idosos e pacientes com doenças
. O oseltamivir leva à formação do metabólito ativo, que
cardiopulmonares ou imunocomprometidos, causando graves
é detectável no plasma dentro de 30 minutos, alcançando as manifestações, que freqüentemente resultam em fatalidades. concentrações máximas após três a quatro horas. A meia-vida do
Atualmente, na prática clínica, a vacinação é a única eficaz contra a
metabólito ativo é de seis a dez horas na maioria dos pacientes.
influenza. Os novos compostos são agentes complementares, sendo
Concentrações plasmáticas constantes são alcançadas dentro de
usados em combinação com a vacinação, mas não são substitutos da
três dias da administração duas vezes por dia e, na dosagem de 75mg
. Para evitar o uso inapropriado desses agentes,
duas vezes por dia, a concentração do metabólito ativo permanece
tratamento deve ser continuado somente nos pacientes com
acima da concentração inibitória mínima de todas as amostras de
diagnóstico confirmado de influenza. Embora eficaz na diminuição
. É distribuído em todos os tecidos, incluindo os
dos sintomas, nenhum desses agentes previne a pneumonia ou
maiores sítios de infecção (pulmão, mucosa nasal e ouvido
hospitalização secundárias à influenza
. Em ratos, foi demonstrado que o uso do oseltamivir não
Enquanto a vacinação em população selecionada permanece a
afetou adversamente as respostas celulares e humorais ao vírus da
intervenção de escolha na profilaxia, a eficácia, a boa tolerabilidade e
a perda de resistência vistos com os inibidores da neuraminidase
Para tratamento da infecção por influenza, utiliza-se, por via oral,
provavelmente farão dessas drogas uma opção de tratamento
a dose de 75 ou 150mg duas vezes ao dia por cinco dias e, como
válido, particularmente em indivíduos não cobertos ou
profilático, a dose de 75mg uma ou duas vezes ao dia por seis
inadequadamente protegidos pela vacina e naqueles com alto risco
. Foi demonstrada sua eficácia quando administrada no
de complicações relacionadas à influenza. Confirmação da eficácia
período de até 36 horas após o aparecimento dos sintomas, profilática dessas drogas poderia indicar um papel potencial maior, reduzindo a duração e gravidade destes e a incidência de especialmente naqueles nos quais a vacinação não foi possível ou não
mostraram que foi inteiramente eficaz, em comunidades fechadas (como asilos) e
oseltamivir fornecido nas doses de 75 e 150mg, duas vezes por dia,
reduziu a duração e a gravidade da influenza A em indivíduos sadios,
Antivirais podem ser úteis como adjuvantes à vacinação,
diminuindo também a incidência de complicações secundárias como
especialmente para controle de epidemias em instituições
bronquite e sinusite. Ainda não está demonstrada sua eficácia antivirais em uso e em desenvolvimento quase certamente serão terapêutica em grupos de risco e na influenza B, enquanto estudos
ativos contra variante pandêmica. O uso durante pandemias deve
sobre sua eficácia como profilática estão ainda em andamento. A
ser extenso, mas pode ser limitado pela quantidade de droga
administração profilática do oseltamivir por via oral foi eficaz em
disponível, a logística da estocagem e distribuição, assim como com a
voluntários saudáveis não-imunizados durante período de influenza,
sendo baixa a incidência de resistência viral
A farmacocinética naqueles com influenza é qualitativamente
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